MÚSICA | O NOVO ÁLBUM DUPLO DO SMASHING PUMPKINS

 

Se existe um fã mais chato que o fã de Smashing Pumpkins eu desconheço. Mentira, existem milhões de bandas de metal no mundo, veneradas por pessoas geralmente legais mas musicalmente insuportáveis. Sim, eu sou fã de metal, mas principalmente eu sou fã de Smashing Pumpkins, entendeu? E não qualquer fã, eu arrisco dizer que sou um dos maiores fãs da banda no Brasil – e mesmo que você não acredite, um dia eu explico melhor essa história, pois a questão agora é outra.

Depois de uma década sofrendo com variações de formação, o Smashing Pumpkins finalmente se aproximou do máximo possível do seu line-up original, sim, você e todos nós sabemos que a baixista D’arcy não retornou a banda, e ainda existe muita terapia entre ela o líder Billy Corgan para ser realizada, mas qual a verdadeira diferença que isso faz para a música da banda, afinal, quase 90% de todo o trabalho de D’arcy no Smashing Pumpkins era reproduzir a composição das linhas de baixos compostas e gravadas pelo controlador Corgan, portanto em termos práticos, D’arcy talvez faça falta visualmente no palco, pois musicamente ela não faz diferença alguma. Superado o drama e as diferentes formações, o grupo retornou com um novo álbum lançado em 2018, o mediano (60% das canções surpreende na medida que 40% desanima) Shiny and Oh So Bright. Produzido pelo mago Rick Rubin o trabalho apresentou apenas 8 canções, entre as quais alguns acertos excelentes como “Solara”, “Silvery Sometimes (Ghosts)”, “Alienation”, “With Sympathy” e “Travels”.

Para 2020 o grupo havia divulgado muitas pretensões, entre elas uma turnê onde resgataria parte do seu acervo de hits mais rock’n’roll (1), um novo álbum duplo com 20 canções (2), a reabertura da casa de chás e eventuais pocket shows Madame Zuzu’s, propriedade de Billy Corgan em Chicago (3), uma turnê comemorativa aos 25 anos do lançamento do álbum Mellon Collie (4), a reedição do álbum Machina em um box de luxo com nova masterização e mixagem, além de músicas inéditas (5), e finalmente, uma série animada com 5 episódios no YouTube (6). Sim, você leu certo, uma única banda, um milhão de planos para um único ano, e infelizmente uma pandemia global inesperada. Acredite ou não, eu deixei alguns itens de fora, entre os quais o lançamento uma linha de roupas e acessórios com a marca hipster cool HUF (7), esgotada assim que disponível para venda, e, eu nem vou falar muito sobre, o anúncio com a continuidade do álbum Mellon Collie (8), um novo álbum duplo que deve ser lançado em 2021… Enfim…

Voltando ao foco, os fãs do Smashing Pumpkins são a espécie mais chata de fã que existe no planeta. Você provavelmente se lembra quando o esgotado Radiohead anunciou um novo e diferente álbum explorando experimentações eletrônicas e abandonando os instrumentos tradicionais com Kid A, certo? Os fãs foram surpreendidos assim como a crítica, mas o álbum se tornou um marco na evolução sonora da banda e foi por fim apoiada por ambos grupos, posteriormente reconhecido como uma das suas grandes obras, em uma perfeita sintonia entre fãs, crítica e banda. Nada disso é realidade quando se trata de Smashing Pumpkins. Se a banda ousar experimentar novas sonoridades, grande parte de seus fãs assumem uma posição contrária a banda, assim como a crítica em geral, e acabam por ser tratados pelo líder Billy Corgan como zumbis de eras passadas, pessoas que esperam pelo conforto do mais do mesmo, e apenas se interessam por canções que soem como nos álbuns iniciais da banda, seja a era Gish, Siamese Dream ou o clássico Mellon Collie.

É engraçado observar que uma banda que propositalmente busca evolução sonora e mudança de sonoridade a cada novo álbum (procure fazer essa experiência atentando-se aos seus álbuns, não existe um único trabalho semelhante ao anterior na discografia dos Pumpkins), acabe por atrair fãs que desejam e lutam pela não-mudança, o que deve ser um dos muitos pesadelos na vida de Billy Corgan – que consciente do seu público faz questão de avisar que independente da aceitação e da crítica, a banda irá continuar a mudar e a expandir o seu universo sonoro. E por isso nós, conscientes sonoros não chatos, agradecemos.

Quando a canção “Cyr” foi lançada ninguém além dos fãs zumbis se surpreenderam negativamente, Corgan havia novamente alterado por completo a sonoridade da banda, apostando em um synthpop-electro-gothic majestoso, ou se você não entendeu, buscou referências em bandas que sempre influenciaram a história sonora dos Pumpkins, como Siouxsie and the Banshees, Depeche Mode, Joy Division, Duran Duran e Bauhaus. O resultado é um álbum delicioso, uma obra que poderia perfeitamente ser lançada durante a década de oitenta, mas que ostenta a modernidade de temas pertinentes a 2020. É impressionante observar que estamos falando sobre um trabalho colossal de 20 canções, e só por isso já merece algum crédito, pois soa até imprudente ou talvez não condizente com a época que vivemos, pois enquanto somos acostumados a saborear e se contentar com apenas alguns singles lançados por ano (quando são de fato lançados), Corgan ressurge e lança de uma única vez uma obra colossal.

Do novo álbum podemos destacar “Cyr”, “Purple Blood”, “Anno Satana” e “Wrath” como as melhores canções, sem desprezar as incríveis mas medianas “The Colour of Love”, “Birch Grove” e “Wyttch”. Em termos de inovação prepare-se para amar ou odiar as canções (pessoalmente foram muito bem recebidas em casa) “Confessions of a Dopamine Addict”, “Telegenix” e “Tyger, Tyger“.

Aos zumbis de eras como Siamese Dream ou Mellon Collie resta ouvir e venerar os clássicos ou – se assim esperado com o tempo – abrir a porta da percepção para a novidade.

Quem nunca imaginou o Smashing Pumpkins como trilha sonora pop irá se surpreender MUITO, positivamente.

AVALIAÇÃO:

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