O Papa Roach é de acordo com a sua própria descrição uma banda que cruzou os limites que a maioria dos grupos não tem coragem de se atrever a se envolver e se relacionar – além de – criar uma das mais destemidas discografias musicais de todos os tempos (nos últimos vinte anos). E se você precisa de referenciais de estilo sinta-se à vontade, pois o grupo se descreve como rap-rock, rock eletrônico, jazz, funk, hip-hop old-school e hard rock. Satisfeito?
Sim, o Papa Roach (devoradores de baratas – nunca me relacionei bem com esse nome, mas entendo a proposta) é tudo isso e nada disso. Mas o principal e mais importante – o Papa Roach é um caso de estudo de mercado musical do início ao fim. E diria seguramente que é um caso de sucesso.
Primeiro vamos entender o momento que a banda se encontra hoje – para então entender que infernos aconteceu para tamanha mudança sonora – e enfim concluir que o Papa Roach é um produto comprometido a oferecer o que o mercado requerer como consumo, isso nos últimos 20 anos. E atender todas as solicitações de mercado não é algo que qualquer banda seja capaz.
A priori vamos pontuar o single pelo qual o grupo foi internacionalmente reconhecido como uma das grandes promessas do (na época conhecido como) metal alternativo em 2000. Um single que provavelmente você conhece e é tão bem construído que incita o ouvinte a cantar mesmo não tendo qualquer ideia sobre a letra em questão.
“Last Resort” faz parte de um momento onde o rock buscava uma renovação aproximando-se de diferentes estilos, rendendo uma nova geração de bandas que ainda hoje existem – não a grande maioria – e possuem um público dedicado que se identifica com a proposta. O videoclipe da canção registra exatamente os jovens dos anos 2000 como uma polaroid – uma aposta que sempre se torna datada com os anos, mas é perfeita para a identificação de público imediata, afinal, ele se vê presente da forma que exatamente é – e isso é uma metodologia de mercado.
Imagine assim, quando os Strokes surgiram no mesmo período, resgatando parte do glamour setentista do rock nova iorquino e vestindo-se de forma elegante atemporal, ele imediatamente se posicionou como um produto mais sofisticado na prateleira musical. Existe uma percepção invisível de maturidade e proposta gourmet se observar o clipe de “Last Nite”, mas isso não se compara com a possibilidade de se conectar diretamente com TODA uma geração. Em seu canal oficial no YouTube, o clipe de “Last Nite” acumula 99 milhões de visualizações. Enquanto isso o clipe “datado” de “Last Resort” ostenta 147 milhões.
E se você acha que o Papa Roach ostenta apenas esse single, e o número de visualizações é superficial mediante toda a obra das duas bandas se comparadas, talvez você tenha dedicado muito tempo da sua atenção para a área gourmet desse mercado de consumo musical, pois acredite ou não o Papa Roach NUNCA obteve menos plays que o Strokes em qualquer plataforma de música que você se atrever a pesquisar. E lembre-se, aqui estamos estudando um case de sucesso do mercado, não estamos comparando os dois grupos sob qualquer aspecto.
Abandonando o ano 2000, vamos mergulhar na proposta do Papa Roach em 2021. Exatamente 30 dias atrás o grupo apresentou o clipe de “Swerve”, uma canção em colaboração (feat) com FEVER 333 & Sueco – nomes bem reconhecidos dentro dos Estados Unidos e derivantes da mesma proposta do Papa Roach. É como uma grande reunião de músicos de diferentes gerações e correlacionados musicalmente. O resultado musical é absurdamente diferente do que você espera encontrar após ouvir “Last Resort”.
Existem bandas que buscam a evolução da sua sonoridade através da exploração de novas sonoridades, o Radiohead e a sua discografia por exemplo – mas esse não é o caso do Papa Roach.
Desde o nome, uma escolha simples ou composta de fácil assimilação e grafia, além de memorável e levemente divertido (afinal quantas pessoas ao conhecerem a banda se perguntaram – por que esse nome? E acredite, isso é um indicador de mercado), o Papa Roach é um produto desenvolvido para resultar em alto consumo comercial.
A banda acompanha exatamente o que a juventude do presente tem como objeto de consumo. Seja o metal alternativo pré emo em 2000, seja a compulsão por feats e batidas de trap ou hip hop old school em videoclipes exageradamente plásticos e coloridos. Se existe uma banda que melhor reproduz os anseios de consumo do mercado presente, sem dúvida alguma essa banda é o Papa Roach.
Os números que ostentam são surpreendentes para o mercado, sendo superiores aos resultados de bandas de rock celebradas como Strokes e Smashing Pumpkins por exemplo, tornando o Papa Roach um fenômeno de mercado com 20 anos de experiencia em se manter em constante consumo com um publico que se renova a cada ano.
Recentemente – você atento consumidor musical – tem observado um crescente interesse do público pelo que é entendido como Punk Pop, muito provavelmente por meio do celebrado sucesso de Olivia Rodrigo, correto? Veja bem, exatamente 24 horas antes da publicação deste artigo, a banda Papa Roach fez o lançamento do single de “Kill The Noise”, e a sua descrição no YouTube é literalmente: “Esta faixa é provavelmente a nossa música de rock mais pesado em 4 anos!”
Seja para onde o consumo do mercado jovem americano apontar, o Papa Roach irá acompanhar, e se você gosta e aprecia o mercado da música ou é músico, com certeza existe algo para aprender com essa banda tida muitas vezes como insignificante.
“Kill The Noise” é exatamente o que se espera de um produto para consumo imediato em 2021. Ela atende todos os elementos do mercado com qualidade sonora de gravação e composição, e mesmo que propensa ao esquecível é capaz de surpreender pela velocidade que é inserida no mercado com o objetivo de captação de ouvintes e renovação de público – uma impressionante habilidade do Papa Roach.
Lembrando que “Kill The Noise” já encontra-se obviamente adicionada em nossa incrível playlist no Spotify, portanto mantenha-se atualizado e torne-se um de nossos incríveis seguidores.
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