CENA | A SEGUNDA VIDA DA BANDA DEB AND THE MENTALS

Se você conhece ou acompanha a trajetória da banda Deb and The Mentals, provavelmente em algum momento você tenha talvez duvidado da sua sobrevivência, a qual persiste muito graças ao trabalho e desejo incessante de sua vocalista e líder, a brasiliense Deborah Babilônia e o baixista Bi Free (Stanislaw Tchaick) – até o momento os únicos integrantes originais de sua formação inicial, a qual atraiu a atenção da mídia e da cena musical independente em sua estréia em 2015.

Mas afinal o que aconteceu com o Deb and The Mentals? Eu diria que tudo o que fosse possível.

A banda desde a sua estréia com o EP “Feel the Mantra” atraiu os olhares e ouvidos com uma sonoridade crua, punk e definitivamente explosiva, apostando em composições simples, porém muito bem estruturadas. A energia e performance de Deborah e seu alcance vocal, aliadas a atrativa personalidade de cada membro da banda, tornava o Mentals um espetáculo de deliciosa digestão sonora. Em 2017 o grupo fermentava a cena de rock independente com o lançamento do álbum “Mess”, produzido no estúdio Costella em São Paulo – com sua peculiar e marcante sonoridade crua – tendo a sua produção e distribuição física pelo selo Forever Vacation em parceria com a Laja Records.

A boa recepção de público e o constante crescimento de seu número de ouvintes e admiradores – eu sou um deles – resultou em convites para shows, festivais e performances exclusivas para canais especializados, determinando o futuro da banda como promissor mesmo em contramão, afinal, qual é o status e espaço para uma banda de rock no Brasil com composições em inglês? Não existe. Cada ouvinte e cada palco é conquistado individualmente com basicamente com muito suor e sangue.

Mas afinal quais são as escolhas que levam esse artigo a celebrar a segunda vida de uma banda promissora? Acredite, existem diversos.

A começar com as mudanças de sua formação original, pois posteriormente ao lançamento do álbum e uma série feliz de shows por diversos estados do Brasil, o grupo se despediu de seu guitarrista Guilherme Hypolito quase em silêncio. Aparentemente as relações entre os membros da banda foi mantida, mas graças ao lançamento de seu próximo single em 2019, uma canção em português e destoante da produção do grupo até aquele momento, existem dúvidas sobre a concordância em relação a mudança de direcionamento sonoro do grupo, uma vez que definitivamente todos fomos surpreendidos.

E simplesmente assim, o Deb and The Mentals decidiu por seguir um novo e diferente caminho, explorando canções em português e apresentando em 2019 os singles de “Asfixia”, “Medo” e “Risco”.

Com a saída de Guilherme, o grupo incorpora o guitarrista Ricardo Dom e inicia a sua saga de transformação de personalidade. Aos atentos havia a expectativa do lançamento de cinco canções em 2019. O que não ocorreu. E ainda existe muito o que se discutir a respeito dessa inesperada mudança, principalmente sobre os impactos de mudar o seu idioma de composição. Alguns acreditam que o grupo deveria iniciar uma nova fase, com um novo nome, e manter o legado do Mentals da forma que fora construído, porém a contraponto muitos fãs e amigos entendem e apoiam o novo direcionamento do projeto da banda – afinal, estamos no Brasil, cantar em português é se conectar sem barreiras linguísticas com o seu publico local, porém a mudança inesperada pode sem dúvida alguma resultar em dispersão e desapontamentos.

Não existe um julgamento de certo ou errado aqui, a banda tem que por si decidir o que faz sentido construir, mas sem dúvida alguma a discussão é válida como um caso a ser observado no mercado sonoro.

Sem o lançamento dos cinco singles programados para 2019, os fãs foram surpreendidos com a saída de Giuliano Di Martino, baterista da formação original do grupo e principal responsável pela identidade visual da banda. Uma saída tão silenciosa quanto a de Guilherme anteriormente, provando que os Mentals não expõem suas indiferenças e caminham mesmo com fortes mudanças da maneira mais elegante possível.

Com a saída de Giuliano o grupo incorpora o baterista Antonio Fermentão – presente em muitos outros projetos da cena independente e inicia os preparativos para a produção de um novo álbum, uma nova vida para o Deb and the Mentals.

Se você observar hoje a vocalista Deborah em ação, você não consegue imaginar o quanto a construção de um novo álbum para o grupo foi complicada, e principalmente como ela se manteve física e mentalmente intocada mediante tantos desafios, os quais para mortais comuns, resultariam em um cruel envelhecimento precoce e anos de terapia, mas Deb mantém a mesma serenidade e concentração física desde os anos iniciais da banda, porém agora loira.

Entre os acontecimentos que podemos superficialmente elaborar, está a reconstrução da proposta sonora da banda, a substituição de dois membros do grupo – e consequentemente os ganhos e perdas de estilos de sonoridade decorrentes, a desconstrução de relacionamentos profissionais em paralelo ao trabalho da banda, uma pandemia global – obrigando o grupo a um hiato não programado, além da mudança de produção e distribuição sonora. Hoje os Mentals são parte do selo El Rocha Records e estão sob os cuidados do experiente Fernando Sanches na produção.

O grupo renasce depois de muita transformação e persiste graças a dedicação e crença de todos os seus membros – definitivamente um desafio que não seria facilmente superado por qualquer banda.

Em sua nova fase a banda já apresentou ao público dois novos singles, entre os cinco prometidos para 2021 e antecedentes ao lançamento do seu novo álbum programado para 2022.

Vamos, portanto, mergulhar em suas novas composições.

“Maratona” abre a nova fase dos Mentals com uma sonoridade mais metal e uma introdução matadora, a construção progressiva encontra com facilidade a voz de Deborah, o que deve simplesmente funcionar maravilhosamente ao vivo. A produção está impecável – e muito é provável que trata-se da melhor mixagem e masterização da história do grupo, dado a claridade de percepção de cada instrumento e seu respectivo timbre. A construção das letras do Mentals tem sua personalidade a parte, a harmonia vocal nem sempre responde da maneira lírica e rítmica esperada, alguns compassos são respeitados para abruptamente serem reordenados estruturalmente, o que a princípio pode causar estranheza em desatentos. Aos fãs de guitarra é perceptível as construções e solos mais elaborados de Ricardo Dom, sem dúvida alguma um acerto.

AVALIAÇÃO:

Os dois novos singles foram apresentados e dispõe de videoclipes dedicados, dirigidos por Murilo Amancio – também mundialmente conhecido como o namorado de Deborah Babilônia.

“Colidir” tem sua estrutura mais robusta e não desperdiça qualquer oportunidade de construir e explorar suas possibilidades. Seu riff carrega um potencial mais comercial que “Maratona”, além de apresentar em camadas uma equalização perfeita em relação aos compassos de bateria estruturados. Deborah avança e desenvolve uma forma mais criativa de pronunciar uma letra de poética abstrata. Ecos grunge são perceptíveis em sua metade final, destacando-se o solo e tendo sua conclusão digna de estar presente em um álbum clássico da banda Soundgarden. O clipe é definitivamente uma das melhores obras executadas visualmente na história da banda.

AVALIAÇÃO:

E assim seguimos acompanhando os Mentals, ao que tudo indica essa segunda vida é muito promissora, mas muito ainda há para se conquistar.

Lembrando que “Colidir” já encontra-se obviamente adicionada em nossa incrível playlist no Spotify, portanto mantenha-se atualizado e torne-se um de nossos incríveis seguidores.

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