Imagine que você está ouvindo músicas aleatoriamente, curioso para descobrir o que o algoritmo da sua vida irá lhe apresentar de novo, e obviamente ignorando o fato de que as suas próximas descobertas são financiadas, ou seja, por trás da fantasia da aleatoriedade existe na verdade alguém pagando para que a música encontre seus ouvidos, como sempre ocorreu nas rádios e televisão, agora – e desde sempre, para sempre – o antigo modelo ocorre em todos os serviços de streaming. E honestamente, você saberia dizer quais as chances de descobrir algo realmente novo, algo produzido localmente, nacionalmente, algo digno da cena independente real? Zero. As chances de você descobrir algo não patrocinado via algoritmos é zero. E não acredite em playlists especiais, elas são apenas parte de um cardápio de serviços oferecidos aos músicos, gravadoras e investidores.Mas qual é a intenção por de trás dessa pequena reflexão sobre o negócio da música? Existe algum objetivo em todo esse discurso?
Claro que sim! O primeiro é abrir os seus olhos e ouvidos para algo realmente novo, independente, sem qualquer financiamento, e com chances matemáticas igualáveis à loteria de serem ao acaso descobertas. O segundo é continuar a insistir que a verdadeira novidade está distante da vitrine, e muitas, muitas vezes, a qualidade está fora do alcance dos olhos do público, infelizmente. Portanto atenção.
Nas infinitas ruas da cidade de Guarulhos em São Paulo um quinteto se reuniu aos poucos e quase ao acaso, para formar uma dos mais novos e promissores projetos independentes da cena musical paulista, o grupo Red Light DC.
Sinceramente quando eu tive meu primeiro contato com o nome do grupo eu imaginei uma coisa completamente diferente do eles realmente são. Não houve conexão imediata, curiosidade ou paixão, apenas um pré conceito automático da minha subconsciência vomitando imagens.
A zona prostíbula ou bairros da luz vermelha são comuns e reconhecidos em qualquer lugar do mundo, assim como são frequentadas por todas as classes de pessoas. Logo eu imaginei grupos semi-organizados de delinquentes, responsáveis por pequenos crimes, violência, consumo de drogas e sexo fácil sem higiene e proteção. Por alguma razão o hard rock oitentista seria uma trilha ideal com um visual trabalhado em couro, um fetichismo uber masculinizado que na real disfarça sua proximidade com o sadomasoquismo. Minha subconsciente é, como podem ver, surpreendentemente criativo, fato.
Logo que eu tive acesso ao primeiro álbum do grupo a minha impressão mudou consideravelmente – e sim senhores, este grupo não iniciou aos poucos, decidiram por logo quebrar janelas com um álbum completo, ao invés de apostar como quase todo artista hoje no mundo em um lançamento mais limitado, talvez um single por vez, porém ultra explorado e veiculado… Na real não existe fórmula certa, senão todos seriam igualmente famosos ou desconhecidos, o que existe é uma tendência de mercado, e o Red Light DC decidiu não seguir nenhuma delas.
O álbum intitulado Love, Alcohol and Other Drugs apresenta em sua capa um bar digno dos delírios de Douglas Adams, com figuras humanas com cabeças de animais. A combinação do título e a capa apenas serviu apenas de combustível para a minha fantasia de banda de trilha sonora de zonas de prostituição marginal, mas para a minha surpresa, graças a um mergulho aleatório em suas canções, eu acabei por encontrar guitarras distorcidas em harmonias dignas de rock alternativo, sintetizadores hipsters e refrões afinadíssimos para fãs de Arctic Monkeys, Strokes, Black Keys e demais bandas que estampam camisetas em bares descolados.
A primeira impressão foi ótima, tão boa que a canção acabou por se tornar uma das minhas favoritas presentes no álbum de estreia. A excelente “Scream” é sem dúvida alguma um ótimo cartão começo, e conta com a produção de caprichado lyric video produzido por Gabi Vessoni – que viria logo mais a produzir outro lyric video do grupo, dessa vez o single de “I’ll be here”.
Formado entre 2016/2017 por Renalvo Junior e Regis Lima (guitarras), Ton Araujo (vocal), Ricardo Bruno (baixo) e Alex Oliveira (bateria), o Red Light DC vem aos poucos conquistando a atenção de novos ouvites, apostando até então no repertório presente no álbum de estréia Love, Alcohol and Other Drugs produzido por Celo Oliveira.
Neste momento a banda ensaia, realiza shows esporádicos e desenvolve o repertório do seu próximo álbum, mas não pense você que desde o lançamento de sua estreia em 2018 o grupo passou despercebido pelo grande público, uma vez que a sua distribuição e representação está sob os cuidados do selo inglês Flicknife Records. A grande e triste verdade é, se o Red Light DC é uma novidade para você, talvez seja por uma falta de atenção sua e de toda mídia musical. Porém vamos corrigir isso agora.
Mas antes de mergulhar na obra do grupo com uma análise honesta faixa-a-faixa, eu tive o prazer de realizar uma entrevista com os integrantes e assim acabei por decidir que essa é a melhor introdução possível, um convite livre de crítica e livre de percepções.
Em breve irei publicar a crítica final sobre o álbum de estreia do quinteto de Guarulhos, mas neste momento lhe convido a conhecer o grupo em suas próprias palavras. Tire suas conclusões e ainda escute três de suas canções presentes no álbum de estreia e que receberam um tratamento especial em vídeo, os dois lyrics videos produzidos por Gabi Vessoni, e o video clipe de “Burn”, produzido pelo diretor Rod Cauhi – que entre muitos trabalhos já assinou produções de Luiza Possi, YouWish, Make U Sweat & Lulu Santos entre outros.
E um aviso final, o álbum de estreia do grupo está disponível em todas as plataformas digitais para os interessados, mas será quase impossível você encontra-los através de algoritmos de aleatoriedade, pois como eu disse antes, muitas vezes a qualidade está fora do alcance do público, infelizmente.
E N T R E V I S T A | M E S S C L A | C E N A | I N D E P E N D E N T E
R E D L I G H T D C
Inicialmente, vamos começar identificando os integrantes da banda, suas funções e se possível onde essa história começou? Quem idealizou a banda e como gradualmente a banda se formou com a entrada de novos integrantes?
Renalvo: A ideia inicial começou quando convidei Alex Oliveira (Baterista) a montar uma banda de som autoral, logo conheci o Ricardo Bruno (Baixo) com quem tive uma grande afinidade musical e o convidei para a banda, com o núcleo formado ainda faltava um vocalista, após um tempo fazendo testes com alguns vocalistas, obtivemos a indicação de Ton Araujo que logo no primeiro contato musical com a banda mostrou que era a pessoa certa para o posto de vocalista, após alguns ensaios vimos a necessidade de mais uma guitarra para somar ao som da banda, então decidimos convidar nosso amigo Regis Lima que já possuía uma excelente experiência musical e acompanhava a banda de perto. Assim nasceu a formação do Red Light DC.
Na percepção da banda qual é o estilo musical que melhor descreveria a sonoridade do grupo?
Renalvo: Somos muito ecléticos dentro do rock, cada integrante da banda tem suas influencias e com isso acabamos apreendendo e conhecendo coisas novas, o que é muito prazeroso pois amamos música, desde a idealização da banda não definimos uma vertente certa a seguir, e quando sentamos para compor as música, elas simplesmente acontecem, digamos que o nosso som é um rock com varias pitadas de outros elementos de dentro do estilo, mas nós simplesmente tocamos rock!!
Quais as principais influências presentes na música do Red Light DC?
Ricardo: Assim como citamos anteriormente somos bem ecléticos, gostamos de músicas com energia, nós nunca tentamos ir por um certo estilo de música dentro do rock, apenas vamos vendo o que vai acontecendo com nossas composições e as melhores ficam no topo. No nosso primeiro álbum tivemos muitas influências de bandas dos anos 90, bandas como Foo Fighters, Pearl Jam, Alice in Chains, um pouco de blues e heavy metal também.
Agora vamos falar sobre o novo trabalho, o recém lançado álbum “Love, Alcohol and Other Drugs”, como este trabalho foi elaborado pelo grupo, podem comentar alguns detalhes da produção, qual foi a primeira música produzida para o trabalho e a última a ser elaborada?
Regis: Começamos este trabalho tomando um belo copo de whisky (risos), começamos nossas composições na casa do baterista Alex Oliveira e do nosso baixista Ricardo Bruno, começamos a trabalhar na música cuja a qual viria a se chamar “Cold Truth”, faixa 4 do nosso álbum. Lembro-me que nesse mesmo dia compomos também “Die Alone”, “Red Light Club” e “Don’t Leave Me”. Eu fiz a pré-produção de algumas músicas e então entramos em contato com o Celo Oliveira do estúdio Kolera no Rio de Janeiro, a ideia original era ser somente um EP com 5 Músicas, mas nosso produtor nos convenceu a escrever mais algumas músicas e assim consequentemente gravamos 11 faixas, tonando o EP em Album. A ultima música a ser elaborada se eu não me engano foi a “Son of Madness”.
Qual a relação do selo inglês Flicknife Records com o novo álbum? Ele será lançado na europa ou distribuído pelo selo? Existe algum plano para apresentações no exterior?
Regis: Assim que decidimos lançar o álbum, em outubro de 2017, comecei a procurar gravadoras no mundo todo para lançar nosso álbum, Algumas gravadoras entram em contato e por fim assinamos com a Flicknife Records, e então lançamos nosso álbum em 22 de março deste ano (2018), o álbum esta disponível no mundo todo pelos serviços de stream. Sobre os shows no exterior, houve uma cogitação da própria Flicknife Records sobre shows na Europa para ajudar nas divulgações, ficamos empolgados com a oportunidade porém a gravadora e nós decidimos esperar, pois isso gera um custo enorme para gravadora, principalmente pelo fato de não estarmos na europa, a localização aqui não ajuda muito, mas temos planos SIM! e estamos trabalhando para isso, No momento queremos fazer shows em todos os lugares possíveis aqui no Brasil, e em breve nos apresentar no exterior.
Os singles “Burn” e “Scream” foram disponibilizados em plataformas digitais antes do lançamento oficial do álbum, acompanhados de um video clipe um lyric video, o grupo tem programado o lançamento de novos singles e vídeos?
Ricardo: Decidimos lançar estas músicas como single antes de termos o planejamento completo de lançar o álbum, fizemos isso para ver a reação do público e lançar a banda nas redes sociais, recebemos um retorno positivo desses singles. No momento estamos planejando o lançamento de mais um video em breve.
Para quem nunca ouviu qualquer música do grupo, qual vocês recomendariam como primeira opção? E por quê?
Ton/Alex: Esta é uma pergunta muito difícil, todos nós somos bem envolvidos com todas as músicas, escrevemos músicas para vários momentos que passamos ou vamos passar no decorrer da vida, mas como primeira opção colocaríamos a “Survivor”, essa música começa em momento difícil, mas ela tem uma parte de superação que é o “boom” da música. Nós indicaríamos ela, pois acho que o refrão tem a energia da banda. Fugindo um pouco da pergunta, também indicaríamos: “Don’t Leave Me”, “I’ll be here” e Burn”.
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