Graças a uma temporária mudança de ambiente, eu me vi perdido nos corredores estreitos de uma apática livraria gourmet, enquanto aguardava ansiosamente pela previsão de embarque do meu próximo voo. É engraçado pensar que depois da reforma ortográfica não existe mais acentuação circunflexa na palavra voo. Essa “evolução”, “adequação”, ou seja qual for a justificativa, definitivamente não é confortável para quem tem o hábito de escrever, mas este não é o foco, ao menos neste momento. Perdido e sem qualquer indicação literária em mente, percorri visualmente uma incontável seleção de obras descartáveis, motivado apenas pela óbvia concepção de confinamento encapsulado durante as próximas horas, e por conta do acaso inexplicável da vida, eu novamente me deparei com uma obra curiosa e fascinante.
O francês Frédéric Martel conduziu durante cinco longos anos uma extensa pesquisa de campo em 30 diferentes países. Entrevistou mais de 1200 pessoas em todas as capitais globais do universo “entretainment”, além de analisar a lógica, os protagonistas e o conteúdo da circulação de conteúdos em cinco continentes. O resultado desta incrível pesquisa está contido em “Mainstream – A Guerra Global das Mídias e das Culturas”, um livro sobre a geopolítica da cultura e das mídias ao redor do mundo. Não trata-se de um lançamento, a obra de Martel foi publicada no Brasil em 2012, mas o conteúdo continua relevante e atual.
Você sabe como se produz um best seller, um hit ou um blockbuster? Você sabe por que a pipoca e Coca-Cola desempenha um papel decisivo na indústria do cinema? Qual é a explicação para o triunfo do modelo norte-americano de entretenimento e o declínio do modelo europeu? Para responder essas perguntas Martel explorou a indústria e a produção, demonstrando que se os produtos do mainstream global não são necessariamente artísticos, as estratégias que permitem sua criação e difusão não deixam de ser fascinantes.
E uma nova guerra está declarada: a luta mundial pelos conteúdos. No cerne dessa guerra está a cultura mainstream. Novos países emergem com modelos de comunicação e entretenimento de massa. A internet multiplica por dez o seu alcance. Na Índia, no Brasil, na Arábia Saudita, luta-se pelo domínio da web e pela vitória na batalha pelo “soft-power”, afinal todos querem controlar as palavras, as imagens e os sonhos.
A obra de Martel relata e decifra essa revolução. Coloca-se como testemunha ocular dessa silenciosa guerra global das mídias e da cultura. E por meio de uma ótica fascinante explica o que é necessário para agradar a todos, em qualquer lugar do mundo.
Sem dúvida alguma trata-se de uma leitura recomendada para quem ama, vive e participa do universo do entretenimento. Um estudo de estratégias de sucesso e espetaculares histórias de fracasso nos bastidores da indústria global de produção de sonhos.
Curioso? Uma excelente entrevista de Martel, concedida no Brasil em 2012, esclarece alguns dos pontos principais assim como desperta o desejo de mergulhar na leitura de Mainstream. Recomendo.
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