CINEMA | DIÁRIO DE UM JORNALISTA BÊBADO – UM FIASCO ESTRELADO POR JOHNNY DEPP

Johnny Depp pode ser um grande admirador da obra Hunter Thompson, um conjunto de percepções caóticas, tomada por delírio, excessos e surrealismo, ingredientes básicos daquele que é considerado o pai do jornalismo gonzo. Mas Thompson certamente não aprovaria os filmes feitos em sua homenagem ou utilizando de sua obra como base.

Thompson viveu uma história de eloquência verbal e ativismo anárquico durante toda a sua vida, vivenciando efetivamente muitas das matérias que se prestava a escrever, tornando-se assim um personagem de sua narrativa particular, até decidir se suicidar melancolicamente com um tiro mortal aos 68 anos.

Depp assume na adaptação da obra “Rum – Diário de um Jornalista Bêbado”, o papel do alter ego de Thompson, o jovem jornalista Paul Kemp, que aceita uma proposta de trabalho em um jornal de língua inglesa na inquietante Porto Rico, durante a década de 50.

Além de Depp, o filme dirigido e roteirizado por Bruce Robinson, conta com a participação simpática do ator Michael Rispoli, no papel de um fotógrafo alcoólatra digno ao título de Sancho Pança tropical, presente no quixotismo de Depp. Fora a participação de Rispoli o longa muito promete e pouco cumpre.

Não que seja fácil, mas o roteiro pouco estruturado de Robinson evidencia apenas fatos específicos envolvendo os personagens, descuidando-se totalmente da dinâmica evolutiva da história como um todo. Logo o filme é transformado em fragmentos individuais, onde pouco importa seu peso em uma trama inexistente, diminuindo a importância de atores consagrados como Aaron Eckhart e Richard Jenkins, cujas participações são pálidas senão nulas. O humor é desconstruído por meio de situações tragicômicas dignas de pastelões juvenis, explodindo sempre em expressões daquele que já tido como um mito pelo seu exagero dramático, Depp.

Se Thompson já apresentava dificuldade em explicar a complexidade de sua obra fragmentada, anárquica e ficcional, resta aos fãs apenas a presença de Depp para se interessar pelo filme, cuja produção estava sob sua responsabilidade e o resultado final resume-se a um fiasco frente a sua história no cinema.

Sequer a beleza hipnótica de Amber Heard ou a inexplicável presença de Giovanni Ribisi, como um figurante de luxo sem qualquer importância, salvam aquela que deveria ser mais uma homenagem póstuma ao criador do New Journalism.

Mas justiça seja feita a Robinson e Depp. Primeiro por que a obra de Thompson é marcada pela falta de continuidade racional, portanto já era esperado um filme de difícil compreensão, mas não podemos negar que ambos se esforçaram para reproduzir uma efervescente Porto Rico, com tomadas de paisagens atordoantes e uma trilha sonora – a melhor coisa presente em todo projeto – espetacular. Sob a responsabilidade e curadoria de Christopher Young, a trilha sonora de “Diário de um Jornalista Bêbado” faz com que o ingresso para os delírios de Thompson/Depp sejam válidos.

Mas não se esqueça de que trata-se de mais um caso onde o trailer resume tudo o que de melhor o filme pode apresentar. Em apenas dois minutos.

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