Fotografia: Clara Novais
Eles querem o seu dinheiro. Alguém diz entre a quarta e a quinta música. Meninas explodem como pequenos colapsos atômicos ao nosso redor. São lágrimas e emoção fervorosa multiplicando-se na multidão. A adoração é muito além de religiosa. As mãos aspiram por uma experiência espiritual. Álbum de inéditas? Não me lembro o ano, faz tempo. Lembrei. 10 anos para ser preciso. A cerveja em lata é estupidamente extorsiva. 10 reais (para novamente ser preciso). E não existe elegância que justifique o preço do Espaço das Américas em São Paulo. A atendente sorri quando eu reclamo, afinal, ela sabe que eu não tenho opção. Pergunto se ela aceitaria pagar o mesmo, e o sorriso desaparece em uma seriedade sóbria. Nunca! Ela diz.
O show recomeça. Essa turnê afinal, celebra alguma coisa? Talvez o fim. O aniversário do Rio de Janeiro em São Paulo? Nada. Inconformado. Mas… Deveria celebrar sempre alguma coisa? E o fim, depois do fim? Talvez. Eu me lembro da última turnê de despedida, quando ERA de fato o fim. Quem está próximo do palco insiste em se aproximar cada vez mais. Fãs. Milhares de fãs. Quantas bandas HOJE no mundo, estão em turnês de sucessiva despedida? Não importa enganar o público. Essa música eu sei cantar, talvez seja possível dançar também. Eles querem o seu dinheiro. Mas quem são eles? E alguém acena em direção ao bar.
O Espaço das Américas tem uma péssima acústica, muitas vezes o volume dos instrumentos de sopro ultrapassa o volume de toda banda, mas a banda está receptiva. Ontem eu li uma crítica, o show de sábado foi seco e frio. O show de domingo é uma celebração. A banda visivelmente se diverte no palco. Não existe um novo álbum. Não existe despedida. Uma das canções mais famosas acaba. Eles querem o seu dinheiro, alguém insiste. Todo mundo quer o seu dinheiro! Resposta automática.
O repertório é impecável, mas acaba por sempre faltar uma música. Normal. Todo fã quer ouvir a discografia completa. Logo eu sou um fã, mas talvez esteja velho também. Algo perdeu-se no tempo. Aquele antigo amou, acabou? E a banda incentiva, Marcelo diz: – Meninas sobre ombros acenando, assim como o sangue! Eu não entendo nada, mas observo alguns adultos chorando. Alguém diz que trata-se de emoção, adrenalina, sangue e aceleração. E na sequência a música mais lenta da história desse país é executada. Talvez eu compre uma nova cerveja.
O show em estrutura surpreende. No dia anterior havia 30 mil fãs. Hoje menos, certamente. E em algum lugar a banda inglesa Muse lamenta a sua prepotência sem qualquer público, sem consciência do poder da fé dos Hermanos. Alguém vai pensar muito antes de organizar a agenda de shows do próximo ano. Certeza absoluta.
E com o fim do show, nada surpreende. O público fiel explode. A banda agradece. Luzes. Luzes. Luzes… Mas eles querem o seu dinheiro, alguém grita… Eu já estou caminhando em direção ao bar.
<20|15>
Você também é parte do MESSCLA! Gostou da coluna? Ajude a nossa multiplicação! Curta nossa página e compartilhe nossos posts!