MÚSICA | OXIGENAÇÃO PAULISTANA

DEB_MENTALS

Não lembro exatamente como, mas graças ao acaso aleatório eu me deparei com o perfil da banda Deb and The Mentals.

No limite do que guardo como registro, lembro apenas de claramente rir e automaticamente simpatizar com ironia presente no nome da banda. A idéia não é inédita ou inovadora, e provavelmente você (assim como eu), não se interessaria em descobrir a proposta de mais uma banda nova com um nome despretensiosamente falso e engraçado (se) em português – mas sempre quando acredito ter encontrado o meu limite, acabo por curiosamente investigar e me apaixonar por uma nova proposta, desde que boa.

Era uma noite fria, a memória sempre falha, mas por vir um celebrado feriado prolongado, a cidade de São Paulo encontrava-se a própria sorte, frente ao seu cotidiano padrão caótico, pode-se afirmar que vazia, e eu acho ótimo.

No clube paulista NEU, menos de 50 testemunhas aguardavam para conferir o novo nome do cenário underground alternativo. É válido ressaltar que o clube NEU tem proporcionado espaço para novos e conhecidos nomes do universo independente, shows de curadoria primorosa e gratuitos para a alegria do público e das bandas que tanto suplicam por iniciativas que, como essa, ajudam a moldar um verdadeiro cenário independente, multiplicando o número de talentos que hoje muitas vezes são ilustres desconhecidos, graças ao seu soterramento em infinitas camadas de internet.

Mas vamos retomar ao Deb and The Mentals. A banda que havia se infiltrado silenciosamente em círculos fechados de delirantes formadores de opiniões, rasgou o frio paulista em doses de distorção bem orquestradas. A cápsula sonora do clube NEU proporcionou um belo começo de noite aos poucos presentes.

A vocalista Deborah Babilonia impressiona pela sua presença gestual, voz encorpada e fôlego inesgotável, impressionante para quem aparentemente não alcança o último nível das prateleiras de um hipermercado, mas não se engane, ela é linda e não aparenta abrir mão de uma boa briga. Giuliano Di Martino faz com que a bateria do Deb and The Mentals se transforme ao vivo, a impressão de garagem sufocante presente nos registros gravados são triturados em uma metralhadora seca e mais acelerada. Quando arrisca ridicularizar o próprio visual, acaba por eletrificar os presentes ostentando óculos de sol na penumbra do clube paulistano. O baixo de Stanislaw Tchaick acaba subestimado em meio a tanta variação de volume, mas em momentos pontuados se destaca bem e equaliza a constante hipnótica do grupo, seja no palco ou fora dele, o gestual de Stanislaw figura como capa em qualquer álbum do Mudhoney, e por fim, Guilherme Hipólitho transforma a sua guitarra economica em riffs incendiários precisos, promovendo o desconforto da classe mais velha presente por aparentemente causar a impressão de que sequer completou 15 anos.

Em meio a todos esses elementos, memória comprometida, arrisquei precariamente fotografar o grupo em ação, considere o amadorismo fotográfico momentâneo como estratégia de um descuido muito planejado, obviamente.

Com o Deb and The Mentals a cena independente de São Paulo pontua presença em novos horizontes, não existe nenhuma revolução sonora, brilhantismo original ou apoteose técnica, mas o respeito pela iniciativa do faça-você-mesmo e o prazer de estar junto a banda é satisfação garantida para quem quer aproveitar uma boa noite de guitarras noventistas em volume ensurdecedor.

Nota: a música “Feel The Mantra” é presença certa no playlist do MESSCLA, recomendo!

AVALIAÇÃO:

<20|15>

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