Eu sou uma farsa. Durante as últimas semanas, eu tenho me dedicado a mergulhar e descobrir a obra integral de um dos mais gástricos diretores do cinema contemporâneo, o espanhol Pedro Almodóvar. Por mais que eu tenha me esforçado, ainda sinto que estou muito distante de conhecer integralmente sua obra visceral, uma vez que o diretor espanhol possui uma série de onze curtas-metragens, lançados entre 1974 e 1978, e caso não esteja equivocado, dezenove longas metragens lançados entre 1980 e 2011. Se você considerar todos os seus trabalhos como ator e produtor, a conta aumenta.
Como é possível imaginar, eu ainda não tive o prazer de conhecer integralmente a obra de Almodóvar, e mesmo assim, decidi por atrevimento cínico definir os meus cinco filmes favoritos do cineasta espanhol. Antes que qualquer fanático purista inicie um movimento de retaliação contra a minha óbvia falha seleção, é preciso registrar que nas últimas semanas eu revi uma considerável quantidade de obras da extensa carreira de Almodóvar, a começar pelo seu grande clássico, o celebrado “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, lançado em 1988, até sua mais recente ficção, o indescritível “A Pele que Habito”, lançado em 2011. São vinte-e-três anos de trabalho e treze longas metragens dissecados. Eu juro que selecionar os cinco melhores filmes, entre 1988 e 2011, consumiu tardes de reflexão e inúmeras conversas em mesa de bar.
Sem dúvida Almodóvar é um dos meus cineastas contemporâneos favoritos. Sua trajetória é digna de um homem insanamente apaixonado pelo seu trabalho. Por ser de família humilde e nunca ter tido condições de estudar cinema, Almodóvar fez tudo ao seu alcance para conseguir viver através de sua arte. Atuou em companhias de teatro amador, produziu pequenas peças e integrou uma banda de rock espanhol, na qual apresentava-se travestido. A partir de 1970 envolveu-se com a produção de curtas metragens, desde então já atuou, roteirizou, produziu e dirigiu diversos projetos.
Homossexual assumido, Almodóvar sempre buscou uma linguagem contemporânea em suas obras. É certo que o diretor espanhol já realizou trabalhos experimentais e extremamente ficcionais, mas a sua principal base de produção explora a complicada relação humana, seja amorosa ou familiar. Sua obra colorida, carregada de sarcasmo, busca na complexa existência humana, variações para as diferentes manifestações do amor e os seus catastróficos efeitos. Um grande mestre.
Confira agora quais são os meus cinco favoritos longas metragens de Almodóvar, apresentadas sem a pretensão de qualquer ordem de importância, devido a minha atrevida e fragmentada percepção de sua completa produção. De qualquer forma, todas as obras destacadas possuem uma importância fundamental, para quem desejar mergulhar no universo encantador deste excêntrico gênio espanhol.
Carne Trémula (1997)
O longa metragem lançado em 1997 marca a primeira colaboração entre Almodóvar e Penélope Cruz. O fascínio, a perda e o sofrimento provocados pelo amor, são a base de um roteiro fragmentado em diversos personagens interligados. Uma história visceral pontuada por uma crua e nua perspectiva sobre o amor.
Tudo Sobre Minha Mãe (1999)
Um dos filmes declaradamente favoritos de Almodóvar, Tudo Sobre Minha Mãe surgiu de uma breve cena presente em A Flor do Meu Segredo, uma obra sem sucesso de público ou crítica, lançado pelo diretor espanhol em 1995. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Tudo Sobre Minha Mãe explora a profundidade do amor materno e os laços de amizade. É sem dúvida um dos melhores momentos de Almodóvar.
Fale com Ela (2002)
Talvez a maior obra do cineasta espanhol, Fale com Ela combina elementos de dança moderna e cinema mudo, com uma narrativa que envolve coincidência e destino. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original, o filme foi aclamado internacionalmente pela crítica e pelo público.
Volver (2006)
O enredo de Volver acompanha a história de sobrevivência de três gerações de mulheres da mesma família. O filme é uma ode à resistência feminina, onde os homens são, literalmente, descartáveis. Seu agradável equilíbrio entre diferentes situações cômicas e dramáticas, torna Volver uma das mais divertidas histórias do diretor espanhol.
A Pele que Habito (2011)
O mais recente filme de Almodóvar é a sua maior e mais indescritível ficção. Estrelado por Antonio Banderas, o filme é considerado a primeira incursão do diretor no gênero terror. Seu roteiro excêntrico é pontuado por experimentalismos médicos e reviravoltas imprevisíveis. Uma obra imperdível.
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